Pandemia: convivência em família, disciplina sem usar da violência

Pandemia: convivência em família, disciplina sem usar da violência

Métodos simples, mas eficazes neste momento de isolamento social. A Psicóloga Janet Marize Vivan conta um pouco da experiência familiar na educação e no convívio com crianças e adolescentes mantendo a disciplina em casa, mas sem o uso da violência. Atitudes que ajudam aos adolescentes a um convívio fraterno.

A  experiência como mãe e profissional de psicologia no campo dos maus-tratos contra crianças e adolescentes, além de orientações colhidas em literatura científica. Ela afirma que raramente, o ser humano se dá conta de sua própria forma violenta de agir.

“É comum que as pessoas se esqueçam de olhar para as pequenas violências cometidas como as sofridas por aqueles de seu convívio mais próximo. Essas pequenas violências ocorrem quando os relacionamentos são marcados por formas agressivas de interação, seja por atitudes, verbalizações, posturas e/ou reações”, diz.

Destaca que algumas formas de violência são aceitas como “normais” na sociedade, como os maus-tratos físicos. Exemplos: palmada, empurrão, chacoalhão, beliscão, tapa, pontapé, puxão de orelha, surras com mãos, cintos, varinhas. Maus-tratos psicológicos: palavra ou ação para envergonhar, censurar, constranger, pressionar, xingar, ofender, rejeitar, isolar, aterrorizar, humilhar, ameaçar, abandonar, discriminar, prometer e não cumprir etc. Também são considerados atos de violência, maus-tratos sexuais, negligencia entre outros.

“Estamos vivendo uma época única na história da humanidade por conta de uma pandemia que culminou com a necessidade de isolamento social, onde famílias estão obrigadas a um confinamento dentro de suas próprias casas por mais de quatro meses. Esta é uma grande mudança, e toda mudança gera desacomodação. O convívio familiar cotidiano, restrito e momento é que a característica de temperamento, caráter, personalidade e saúde mental dos componentes da família é que vai ditar o tom dos relacionamentos”, destaca.

Ela orienta para que os pais ou cuidadores, por conta do papel que devem exercer, e por conta da maturidade que precisam ter adquirido, devem ser os condutores da experiência dentro do lar, auxiliando crianças e adolescentes a atravessar este período com o menor dano possível. Para isso devem procurar criar um ambiente doméstico mais organizado, equilibrado e tranquilo possível.

“Os pais ou cuidadores, por conta do papel que devem exercer, e por conta da maturidade que precisam ter adquirido, devem ser os condutores da experiência dentro do lar, auxiliando crianças e adolescentes a atravessar este período com o menor dano possível. Para isso devem procurar criar um ambiente doméstico mais organizado, equilibrado e tranquilo possível. Os adultos estão muito exigidos neste contexto e, portanto, precisam estar mais atentos, dispostos e saber que esforços extras serão necessários, além disso, reservar um tempo para si a fim de recarregar as baterias. Precisam lembrar que culpar-se é improdutivo, gasta energia que será necessária nas ações. Fazer o seu melhor e perdoar-se pelo que não é possível, é saudável. Os maiores conflitos dentro dos lares são por conta de serviços domésticos, atividades escolares e uso do tempo nas tecnologias digitais”, ressalta Janet.

E para diminuir os efeitos o importante para a psicóloga é o diálogo, tirar um tempo para conversar sobre si, sobre o outro e sobre tudo o que ocorre dentro de casa. Diálogo deve ser uma via de duas mãos, os pais devem falar e ouvir, assim como os filhos precisam ter a possibilidade de se expressar e serem ouvidos. Com o diálogo fluindo um pouco melhor poderão ser construídos “contratos”, onde se estabelecerá a divisão de tarefas, tempo de estudo e de internet. Os contratos não são uma pílula mágica que resolve todos os conflitos, mas é uma boa forma de cobrar o que não está sendo cumprido.

“Cobrar com firmeza, autoridade e sem agressividade, o que gera maior concordância e colaboração. É preciso haver equilíbrio e justiça nestes contratos para que despertem a motivação a cumpri-los. A divisão de tarefas é melhor assumida quando definida em conjunto e escrita. Quanto ao uso de eletrônicos é improdutivo proibir uma criança ou adolescente de estar conectado se não houver outro estímulo interessante para substituir”, orienta.

Partindo de sua experiência pessoal e profissional Janet coloca alguns pontos importantes para facilitar o convívio dos pais e filhos. Crianças e adolescentes estão numa fase de necessidade de movimento, interação, crescimento, agitação. Pedir para que fiquem parados, sem atividade prazerosa, não vai alcançar sucesso. Elas facilmente se entediam e, infelizmente, não estão orientados para o ócio criativo. E assim já fica uma dica, crianças e adolescentes se beneficiariam enormemente de praticas de yoga, meditação, relaxamento, contemplação e reflexão. Se os pais oferecerem aos filhos atividades em conjunto que sejam  de interesse mútuo, eles vão participar com entusiasmo, mas há de haver interesse mútuo.

“O que é diferente de forçar os filhos a montar quebra-cabeças, se eles preferem jogar xadrez. Quanto aos períodos de estudo, uma opção que tem apresentado bons resultados, é intercalar as tarefas escolares com outras atividades. Por ser uma época de muita tensão, dividir em períodos menores de tempo tem facilitado a criança e adolescente a cumprir melhor seus deveres, com mais concentração. Delimitar o tempo de uso de eletrônicos é muito importante, estudos indicam que o excesso é prejudicial de diversas formas. Inclusive gerando ansiedade, agitação, nervosismo e agressividade. Mas deve haver algo que substitua este estímulo, pois dentro de um celular existe um universo de possibilidades. No entanto, também há muito material inapropriado e nocivo que pode influenciar negativamente o desenvolvimento das crianças e jovens. É preciso estar atento ao conteúdo que eles acessam”, observa

E conclui orientando a um convívio sem cobranças constantes, sem brigas desnecessárias e com momentos prazerosos em família, tudo pautado no diálogo, onde o ouvir a si mesmo e ouvir ao outro faz toda a diferença na construção de vínculos afetivos profundos e estruturantes.

Fonte: Vatican News

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