Um batismo de penitência para a remissão dos pecados! – Eucaristizai – Catequese Eucarística

Um batismo de penitência para a remissão dos pecados! – Eucaristizai – Catequese Eucarística

“No deserto pregava um batismo de conversão para a remissão dos pecados” Mc 1, 4 

Lema: Por causa de Cristo, o batismo nos garante a salvação.

Saudações eucarísticas e penitenciais!

1- Para início de conversa: Adentrando no sagrado do tema…

Queridos irmãos e irmãs, o tema deste III Eucaristizai, sobre o batismo de penitência apontado por João Batista  no “início da Boa Nova de Jesus Cristo segundo São Marcos” (Mc 1, 2-8), situa-se na grande moldura deste Tempo do Advento e, como contorno esta inesperada pandemia da covid19 iniciada no ano corrente que nos pede uma conversão diária, algo como nascer de novo. Re-nascermos como ser humano, como profissional, como ser de relação (na família, na Igreja e na sociedade em geral) e como ser cristão. Se tem uma coisa que este tempo nos pede é conversão em todas as áreas e sentidos.

De uma hora para outra vimos mudar a rota da humanidade, desacelerando drasticamente sua rotina, alterando seu ritmo e diminuindo muitos de seus ritos, inclusive religiosos. Conviver, amar, viver a fé cristã batismal, passou a ser um esforço diário de mantermo-nos distantes e isolados – uns mais outros menos, mas todos em algum grau vivendo esta cultura da distância social. Por isso a vida cristã nos pede que sejamos capazes de criar novas ações dentro da tríplice graça batismal de conversão: a de sermos sacerdotes, profetas e reis:

a) Pelo batismo nos tornamos sacerdotes, ou seja, cristãos que intercedem a Deus pela Igreja, pelos irmãos e irmãs, pelos que sofrem, pela humanidade e por toda criação de Deus!

Interceder é uma experiência singela da missão cristã que nos indica o caminho da solidariedade humana, da alteridade cristã com a vida da Casa Comum. Esta ética sacerdotal nos impulsiona para uma vida cristã exodal, de uma “Igreja sempre em saída”.

– Neste caminho sacerdotal, onde você se encontra?

b) Pelo batismo, nos tornamos profetas, ou seja, cristãos que anunciam uma palavra de esperança, de ânimo e encorajamento aos desanimados nesta vida pandêmica do ano de 2020. Uma palavra de vida aos que estão feridos em sua dignidade física, social, psíquica e espiritual.

Mas cristãos profetas, também tocam nas chagas da humanidade, da vida em sociedade e eclesial; tocam naquilo que precisa ser transformado, passar do caminho da morte para a vida, do egoísmo para a compaixão.

Portanto, um cristão profeta é alguém que ajuda, dentro dos princípios da caridade fraterna, o irmão, a irmã em seu caminho de conversão, a mudar de vida, retomar “ao primeiro amor”.

– Neste caminho profético, onde você se encontra?

c) A terceira graça batismal: pelo batismo somos reis.

Com esta marca indelével batismal, a Igreja nos chama ao compromisso de serviço a toda espécie de vida da Casa Comum, habitação da criação de Deus. Servir a vida humana, em particular, aos mais vulneráveis, aos mais empobrecidos e dependentes de cuidados: crianças, idosos, à margem da dignidade fundamental, os que passam fome.

Por isso, ao contrário da lógica das monarquias em que o rei é alguém que é servido, bajulado e até cultuado (como a história nos aponta), para os cristãos Jesus Rei do Universo, como nos aponta a Liturgia do último domingo do Ano Litúrgico, mostra-nos uma nova visão: o trono de Cristo é a Cruz e a sua coroa real é a de espinhos. Coroa esta que sinaliza o sacrifício que torna-se sinônimo de entrega de vida pelo Deus do Reino e pelo Reino deste Deus apresentado por seu Filho Jesus.

Ora, se o Mestre nos deu um exemplo de rei batismal, não podemos querer um caminho contrário ao segui-lo. Portanto, o “cristão-rei” é aquele que toma parte na espiritualidade da coroa de Cristo, a sua cruz, isto é, aquele que “dá a vida”, como nos testemunha o Modelo Bom Pastor, o Modelo Lava-pés; o Modelo Pão partido e repartido (como nos lembrou hoje no evangelho da multiplicação dos pães). Enfim, Jesus Rei de Cruz e de Coroa de espinhos é o nosso modelo de rei batismal.

Meus irmãos e irmãs da Família Eymardiana, peregrinos deste Santuário Eucarístico Sacramentino, assumirmos esta terceira graça de conversão batismal na vida cotidiana é dizer que desejamos nos unir a Jesus Cristo e sua entrega de vida (total!), cujo ícone máximo vem deste lugar de repulsa  dos reis deste mundo. Portanto:

– Neste caminho da terceira graça batismal, a de sermos reis, onde você se encontra?

É dentro desta esfera que acabo de contextualizar que devemos acolher, abordar e propor um olhar cristão deste Eucaristizai da Província  N. SRA. de Guadalupe. Neste olhar, partamos do “início da Boa Notícia de Jesus Cristo, Filho de Deus”, conforme está sendo proposto como tema de hoje onde João Batista apareceu .

No deserto pregava um batismo de conversão para a remissão dos pecados” (Mc 1, 4).

É por causa de Cristo, apresentado a nós por meio de João Batista, com nossa adesão batismal Nele que temos garantido a salvação.

Aprofundemos um pouco este caminho de salvação que é o Batismo

2- Pra continuar nossa conversa: Aprofundando o sagrado do tema…

O texto de São Marcos que hoje meditamos e rezamos, nos diz que Joao Batista, “No deserto pregava um batismo de conversão para a remissão dos pecados” (Mc 1, 4).

É por causa de Cristo, apresentado a nós por meio de João Batista, este homem simples que não deixou-se iludir pelo seu lugar de importância que ocupou no caminho de preparação da chegada do Senhor, que nós abraçamos a fé, acolhemos a salvação eterna diante de nossas finitudes e precariedades.

Aprofundemos um pouco mais este caminho de salvação que é o Batismo de conversão apontado pelo “Maior nascido de uma Mulher”, João Batista.

v.2: O PROFETA ISAÍAS ESCREVEU:

Deus disse: eu enviarei o meu mensageiropara preparar o caminho do Senhor…

v.3: Alguém está gritando no deserto: preparem o caminho para o Senhor passar…

Abram as estradas para Ele passar…

– Deus sempre envia mensageiros para nos ajudar a atravessar os desertos. E nestes desertos Ele nos ajuda com pessoas que preparam-nos um caminho do Senhor e estes profetas joaninos nos conduzem por caminhos seguros como rezamos no salmo da Liturgia deste dia 02 de dezembro.  

– João Batista, hoje, é você, sou eu, somos nós, povo de Deus enviado a preparar os caminhos para que o Senhor passe por eles conduzindo os que estão perdidos em seus desertos.

 (v.4: Foi assim que João Batista apareceu no deserto batizando o povo:

Arrependam-se dos seus pecados, sejam batizados, que Deus perdoará vocês…

Foi assim no passado e também é assim hoje, João, que é você, a comunidade, a Igreja, que devemos aparecer, levantar de nossos desertos convidando uns aos outros a uma conversão diária de velhas práticas, hábitos, maneiras de ver, sentir, agir para assumirmos uma nova roupagem, a veste batismal. É assim  que Deus nos perdoa, nos reconduz, nos capacita para continuarmos sua missão no mundo.

v.5: muitos moradores da região da Judeia iam ouvir João. Eles confessavam os seus pecados e João os batizava no rio Jordão…

– Muitos ontem e hoje continuam ouvindo as vidas daqueles que falam e buscam viver uma vida em nome do Senhor – as testemunhas joaninas de hoje.

– Para seguir a Cristo, confessar o pecado é a forma de iniciar um novo caminho. Uma nova forma de vida cristã, só pode nascer de um coração penitente, que converte, que muda sua direção ao ser tocado pela beleza da Boa Nova de Jesus Cristo (como inicia São Marcos no primeiro versículo).

– Só é capaz de confessar sua miséria quem se esforça pela via da humildade, da espiritualidade das pequenas coisas, pois o mundo dos soberbos não encontra sustentação no Reino de Deus sinalizado por João Batista e celebrado com a Vida de Cristo e seu Mistério Pascal.

Ele dizia ao povo: depois de mim vem alguém que é mais importante do que eu, e eu não sou merecedor de desamarrar as correias das suas sandálias.

– João Batista é modelo de vigilância e conversão para nos mantermos simples e pequenos diante uns dos outros, para não cairmos no pecado da soberba, vaidade, prepotência e orgulho.

– A humildade (vem de húmus, humos é terra) joanina nos ajuda a perceber que importante não sou eu, é o outro e o Outro que é Deus (Filho de Deus).

v.8: Eu batizo vocês com água, mas Ele os batizará com o Espírito Santo.

– Por fim, o batismo de João mostra sua provisoriedade, pois é nascido da água (conversão) já o batismo que recebemos de Jesus, será pelo Espírito Santo.

– O bonito é que no sacramento do batismo como porta de entrada à vida cristã, realiza pelo rito esta graça, mas invisível, mas por meio do sinal visível, a água.

– A água tem poder de lavar a epiderme, mas o Espírito nos purifica em profundidade.

Isto nos faz pensar e crer que em nossa provisoriedade Deus habita, se encarnou e se encarna, para tornar nossa terra, nosso húmus, nossa humanidade elevada à condição divina de filhos e filhas muito amados.

Pra concluir nossa conversa: Lançando pistas a partir do sagrado do tema…

Enfim, que o Tempo do Advento, este tempo onde o Senhor nos convida a acendermos luzes na escuridão da vida do irmão e da irmã, este Advento como caminho de conversão, aprendamos a convertemos nossas margens obscurecidas pelo pecado em margens de vida, de luz, de transformação da vida do próximo.

Que este tempo luminoso, que é o Natal do Senhor;

Que ele seja celebrado, mais do que nunca pela via da simplicidade dos ritos, mas, ao mesmo tempo, com a força dos seus gestos;

Que ele seja celebrado sem multidões, mas, mais do que nunca com uns poucos que representarão todos os membros deste Corpo Místico que somos, os mais saudáveis e os mais enfermos,

Que ele seja celebrado, este Natal, com muitos gestos de amor ao próximo, de reconciliação, de compaixão, de solidariedade e reciprocidade ainda que distantes de muitos socialmente.

É neste tempo de tantos desastres (des = sem + astrum = estrela) causados por este “tempo pandêmico”, por este céu apagado, sem estrelas, que Deus nos chama como seres novos, renovados, convertidos, a sermos uma pequena chama de vida, uma pequena chama luminosa nos céus dos irmãos e irmãs.

Assim,

Onde o céu de alguém cobriu-se de doença, seja uma luz de saúde!

Onde o céu de alguém está coberto de descrença, seja uma pequena chama de esperança!

Onde o céu de alguém está triste, seja uma estrela de alegria!

Onde o céu de alguém foi ferido de morte, seja uma presença luminosa de vida!

Onde o céu de alguém foi coberto de medo, seja uma pequena estrela de coragem na travessia!

Onde o céu de alguém foi embora com o desemprego, seja uma pequena luz de oportunidade!

Onde o céu de alguém fechou com a depressão, a prostração, seja uma estrela de ânimo e força!

Onde o céu de alguém escureceu pelos medos e incertezas, seja um ponto de ancoragem!

Onde o céu de alguém foi ferido de violência, seja um ponto luminoso de paz!

Onde o céu de alguém tornou-se encoberto pelas cinzas da intolerância seja a luz da reciprocidade!

Onde o céu de alguém ficou isolado nesta pandemia, seja a luz da proximidade!

Onde o céu de alguém foi encoberto de abismos tantos quantos não há palavras, descubra um jeito de ser luz, estrela, ponto luminoso!

… onde no céu sem estrelas de alguém, marcado por algum desastre nesta pandemia, cada um que está aqui neste Eucaristizai  – ou nos acompanhando em sua casa – for uma presença da Luz (que é Cristo), tenhamos a certeza, faremos a diferença, teremos pregado com a vida em nossos desertos, como João Batista, os caminhos do Senhor. Teremos nos convertido, por causa de Cristo em seres humanos melhores, em cristãos melhores na Família, na Igreja e na Sociedade.

Seja luz, para isso entregue-se ao caminho de conversão que nasce dos seus desertos, das suas noites escuras, deste tempo de desassossego chamado Pandemia.

Pois nenhuma noite é para sempre!

Mas a Luz de Cristo, sim: ela estava no “ontem, hoje e para sempre! Amém!

Padre Marcelo Silva, sss,
Provincial da Congregação do Santíssimo Sacramento

 

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