“Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente. Quem tem ouvidos, ouça!” (Mateus 13,8-9).
Deus abriu nossos olhos nesse domingo, dia do Senhor, para nós iniciarmos esses novos dias na sua presença, que nós somos privilegiados porque acordamos na união com o Espirito do Senhor e é Ele que vai nos conduzir, durante esses 07 novos dias. Por isso nós consagramos, a nossa família em primeiro lugar, a nossa Igreja doméstica, consagramos os nossos diversos trabalhos durante essa semana, nossas diversas atividades no mundo da sociedade, mas também consagramos ao Senhor o nosso pensar, o nosso sentir, para que o nosso agir revele a presença dele na nossa vida.
A Palavra de Deus hoje nos chama muita atenção para como que nos acolhemos a sua orientação para nossa vida, como que nós acolhemos a Palavra. Nós ouvimos a profecia de Isaías, Isaías fazendo uma belíssima comparação do efeito de uma chuva e da neve, ele diz o seguinte: Assim como a chuva que cai no solo, na terra, que fecunda a terra e faz com que essa terra, todas as sementes possam ser brotadas e gerar plantas e frutos, assim também é a palavra de Deus, não volta para o Senhor da mesma forma. Deus inclina a sua palavra para o mundo e aqueles que são discernidos, que acolhem essa palavra diariamente, vão produzir ações de bondade, porque estão cientes do que Ele deseja para todos nós.
Uma bonita comparação do profeta Isaías para gente poder entender que a Palavra não é uma letra morta, não é um livro que a gente usa folheando páginas ou como alguns acham, sortear o que Deus vai me dizer hoje, ah eu vou abrir aqui o livro, a Bíblia, página 02, página 15, pagina 1000, não essa é essa experiência que Deus quer, que nós façamos. A experiência primeiramente é de acolher e segundo discernir e descer, praticar. Isaías é muito feliz quando ele diz: Assim como a chuva, assim como a neve que cai no solo e não volta da mesma forma, assim também é a Palavra de Deus, que cai num coração aberto a viver uma nova vida, somos nós.
Nós ouvimos o que Jesus proclamou para todos nós no Evangelho de Mateus. A experiência de contar parábolas, é uma experiência estratégica de Jesus, Jesus tinha pressa pra revelar ao mundo o rosto verdadeiro do nosso Pai. Ele tinha pressa e ele não podia ficar usando discursos rebuscados, oratórias muitos altas porque em primeiro lugar, Ele veio para os pobres, para os marginalizados, Ele não veio para os Doutores da Lei, Ele não veio para os Fariseus, Ele não veio para os prepotentes, Ele veio inicialmente para a multidão largada, sofrida, sem Pastor. E para tocar o coração desse povo, ele tinha que falar de forma simples, porém com muita eficácia. E aí ele usava um recurso chamado parábola, que eram historinhas, novelas que Ele criava com muita sabedoria, inspiração evidentemente Divina, para que as pessoas fossem acompanhando a historinha e fossem se colocando dentro daquela história, dentro daquela novela e tirassem uma conclusão para a sua vida.
Nenhuma parábola da Bíblia, no Novo Testamento, tem uma conclusão, existe muitas conclusões, porque cada um vai tirar a resposta para a sua vida, do que ouviu do Divino Mestre. E justamente, Ele conta uma parábola. Primeiramente Ele está na margem do lago, logo em seguida Ele começa a perceber que a multidão está atrás Dele, então para que Ele rapidamente toque o coração dessa multidão, de pessoas sedentas por Deus e entender o que Deus quer para nós, Ele toma a barca e se afasta um pouquinho da margem, para dizer: Olha, agora eu vou falar, e eu vou falar com parábolas para que vocês entendam, o que meu Pai, deseja de vocês.
Ele começa a contar uma historinha. Um semeador, um agricultor, pegou seu alforje cheio de sementes e foi semear, usando a linguagem do agricultor, aquele povo simples, pobre, mas que entendia muito bem. E Ele diz olha: em primeiro lugar o semeador jogou assim… no meio do caminho a semente, lá na frente ele jogou no meio das pedras, mais um pouquinho na frente ele jogou no meio de espinhos e por fim, na quarta lançada de sementes ele jogou numa terra boa, preparada, adubada. E assim, Ele começa a contar essa historinha para que as pessoas pudessem entrar na história, imaginar, o feito do semeador e aí a partir desse momento, Ele começa agora a comparar, a dizer e a explicar para o povo, o que Ele estava querendo dizer.
Primeiramente Ele diz: Olha, o meu Pai, o grande semeador da vida, Ele todos os dias está se revelando para vocês, todo dia Ele está semeando a vida, no meio de vocês, ele está orientando cada um de vocês, todos os dias, em todos os segundos da vida, agora resta, a receptividade, como que vocês recebem? As orientações de Deus, como que vocês recebem essa Palavra. Não é mais uma questão de Deus dirigir a palavra para um e não para outro, ao contrário, ele dirige para todos, bons e maus, ele faz chover para bons e maus, Ele nasce o sol para bons e maus, a questão é, a receptividade, como que você recebe, como que você encarna, como que você entende a Palavra, como que você aplica?
Tem gente que vai passar a vida inteira celebrando a Santa Missa, ouvindo a Palavra e não vai mudar a sua caminhada, já tem outros que as vezes estão tão distantes, mas quando se abrem realmente ao coração, ao discernimento da Palavra mudam radicalmente, 360º, o seu comportamento, a sua vida, é o que nós chamamos de conversão. E aí Ele começa a comparar, olha, quando o semeador jogou a semente no meio do caminho, é comparado aquelas pessoas que até escuta a Palavra, mas nada acontece, porque não toca, não passa na mente, não passa no coração, são aquelas pessoas que vão talvez, uma Celebração da Igreja uma vez por ano, para cumprir preceito, ou quando morre alguém, para prestar sentimentos a família ou quando existe um casamento, já pensando no Buffet muito mais do que o Sacramento do Matrimônio, a Palavra não faz diferença nenhuma, é como se fosse uma notícia de jornal, ou como se fosse um teatro que qualquer Igreja esteja encenando.
Jesus compara a atitude do ser humano que semeia ao meio das pedras, até começa a nascer, aquele ser humano assim, que começa a ler a palavra de Deus, a Bíblia, ligar a televisão, ouvir alguma coisa sobre Deus, fica motivado inicialmente, fica ali contente, querendo, mas começa a se distanciar porque tem problema do desemprego, tem um câncer, tem a depressão, tem os problemas de brigas dentro de casa… não! Não vai fazer diferença eu continuar ouvir ou dizer não, minha vida não vai mudar não, eu largo de lado tudo isso, começa, mas não continua.
O semeador jogou entre espinhos, e ele falou, olha, cresceu, ficou bonito, começou a crescer, brotar, só que os espinhos sufocaram! Comparamos pessoas que estão buscando sim a Deus, estão enfrentando as dificuldades, mas se entregam diante da força do mundo. São pessoas que até pecavam muito antes, se arrependeram, começaram a ouvir o que Deus quer para o ser humano, mas voltaram ao pecado, à prostituição, a fazer o mal ao outro, à desonestidade, porque os espinhos do mundo continuam a sufocar essa pessoa, essa pessoa ela não tem forças para poder romper os espinhos do mundo.
E existe aquele e aquela, que eu espero que sejamos todos nós aqui e os que estão nos acompanhando, que soube muito bem acolher essa Palavra e que se esforça para gerar frutos porque cai numa terra boa. O que que é terra aqui? É o coração. Se a palavra de Deus não passar pelo coração meus irmãos, não tem sentido. Porque o teólogo, o cientista, aquele que estuda a religião, ele não precisa de entender a palavra a partir do coração, ele trabalha do pescoço pra cima, é ciência, é estudo, o mundo está cheio de pessoas acadêmicas, mas não quer dizer que elas têm fé, ou que elas sentem a palavra, elas estudam, elas dissecam a Palavra de Deus, no contexto histórico, geográfico, exegético, homilético, e outras coisas mais.
A Experiência que Jesus está dizendo para a multidão que somos nós, deixa a minha palavra cair na terra boa, no teu coração, deixa eu chegar no teu coração e se você deixar, se você me receber, aí eu repito, a palavra de ordem dessa semana é a receptividade, porque a Palavra está para todos, mas é como que eu recebo essa palavra, e como é que eu pratico essa palavra, você vai gerar frutos. Alguns vão gerar 100 frutos, aquelas pessoas que realmente estão tão íntimas do Senhor e entendem tanto o que Deus quer, que a gente olha pra vida daquela pessoa e diz, olha, pôxa tudo o que toca vira ouro, pessoas que geram muitos frutos, porque tem uma intimidade muito forte com essa palavra. Mas Deus não vai exigir nada a mais do que nós podemos. Ele diz: outros vão produzir 60, mas vão produzir, outros vão produzir só 30, mas vão produzir, talvez um ou outro vai produzir só um, mas vai produzir.
Essa experiência de continuar a fazer o bem, porque entende o que Deus quer de nós, é a experiência do Evangelho que quer que nós encarnemos. Que todos nós de alguma forma, possamos produzir frutos, porque nós compreendemos, nós recebemos a orientação de Deus, palavra do Senhor. Não como livro morto, não como uma letra de biblioteca, não como enfeite de estante, mas como aquilo que Deus quer que nós sejamos e vivamos. Que Deus nos ajude, que possamos tomar posse dessa palavra, e que realmente se nós recebemos no coração, na terra boa a palavra do Senhor, a gente vai praticar e vai produzir muitos frutos em nome dele.
Padre Jackson Frota, sss