Com a chegada da Quaresma, muitos católicos sentem-se perdidos sobre quais penitências devem adotar neste tempo de reflexão e preparação para a Páscoa.
Finalmente chegamos em um dos tempos litúrgicos mais bonitos, o tempo da Quaresma. Um tempo onde ouvimos ainda mais forte o convite à conversão. É um Kairós, um tempo de graça onde a misericórdia de Deus se derrama de forma ainda mais abundante em nossas vidas. Onde, diante do reconhecimento das nossas faltas e da nossa pequenez, experimentamos um auxilio ainda maior da graça na busca da santidade.
Este tempo é conhecido por ser favorável para a conversão, os evangelhos de cada dia vão tocando a terra do nosso coração e preparando-o para acolher a conversão que o Espírito quer nos dar. E motivados por esse desejo de mudança de vida e de santidade em todo início de quaresma sempre bate aquela dúvida: Qual penitência devo fazer? Mas muitas vezes apesar de estarmos com o espírito certo para a vivência da quaresma, curiosamente, na prática, a escolha da penitência às vezes se perde desse objetivo.
Muitos de nós pensamos logo em deixar de comer o doce favorito, parar de tomar coca cola, não passar tanto tempo nas redes sociais ou sair delas durante o tempo da quaresma. E tudo isso pode sim ser uma mortificação, uma penitência que nos ajudará na nossa conversão, mas infelizmente às vezes, chegamos ao fim da quaresma e ainda que fiéis até o final no cumprimento da penitência escolhida, ainda assim não conseguimos ver frutos dessas renúncias exteriores que fazemos. Não é verdade?
Por isso é importante entendermos o espírito da penitência para que então possamos escolher o que realmente nos dará frutos de conversão. Então, com o objetivo de te auxiliar na escolha da sua penitência para a quaresma, vamos refletir sobre o que significa a verdadeira penitência e porque fazê-la. Nosso objetivo não será dizer qual penitência você deve fazer, mas te ajudar a discernir com a formação e em oração qual a penitencia que Deus quer que você viva.
Qual o espírito da verdadeira penitência?
O Catecismo da Igreja Católica no parágrafo 1430 nos diz: “Como já acontecia com os profetas, o apelo de Jesus à conversão e à penitência não visa primariamente as obras exteriores, «o saco e a cinza», os jejuns e as mortificações, mas a conversão do coração, a penitência interior: Sem ela, as obras de penitência são estéreis e enganadoras; pelo contrário, a conversão interior impele à expressão dessa atitude com sinais visíveis, gestos e obras de penitência. ”
No livro do profeta Joel também está escrito: “rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes” (Joel 2,13). É necessário que o discernimento pela escolha da penitência tenha como objetivo a conversão do nosso coração. As obras exteriores precisam ser motivadas pelas nossas necessidades de conversão interiores e para isso a revisão de vida e a oração são imprescindíveis.
O primeiro passo e devo em espírito de oração e de revisão de vida perguntar a Deus:
- Quais áreas da minha vida que mais precisam de conversão?
- O que tem me impedido de crescer nesta área?
A penitência deve ser direcionada para o que realmente levará a conversão do meu coração. A revisão de vida em espírito de oração acerca dos pecados capitais, e também das nossas concupiscências: o prazer, o poder e o possuir, podem nos ajudar a enxergar objetivamente qual a área que Deus quer operar em nós o milagre da conversão e também nos levar a fazer uma boa confissão neste tempo.
O parágrafo 1431 do Catecismo nos ajuda ainda mais a entender como a penitencia deve ser um compromisso de Metanoia e deve ser motivada pelo desejo de mudança radical de toda a vida:
“A penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um regresso, uma conversão a Deus de todo o nosso coração, uma rotura com o pecado, a aversão ao mal, com repugnância pelas más acções que cometemos. Ao mesmo tempo, implica o desejo e o propósito de mudar de vida, com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda da sua graça. Esta conversão do coração é acompanhada por uma dor e uma tristeza salutares, a que os Santos Padres chamaram animi cruciatus (aflição do espírito), compunctio cordis (compunção do coração)”.
Desejamos a você uma boa e santa quaresma e que o Espírito Santo te ilumine e te ajude a ser fiel nas penitências e mortificações necessárias para sua conversão.
Fonte: comshalom